Porque não vou lançar a pedra ao negócio da escola de negócios



* CLEMENTE ALVES



Apesar de ter tido a amabilidade, desta vez, de me enviar um convite para participar no almoço festivo que antecede o lançamento da primeira pedra da Escola de Negócios da Universidade Nova, em inglês da Califórnia designada School of Business,  lamento, Sr. Presidente, mas não vou poder aceitar o seu convite, não sem que lhe comunique os motivos porque o faço.


Não vou ao seu almoço nem lançarei a simbólica pedra porque jurei aos cascalenses defender os seus interesses e, nessa medida, porque estou na convicção de que os verdadeiros interesses dos cascalenses são opostos a tal negócio. Negócio que, a concretizar-se, será para fabricar lucros privados mas que, para ser erigido e mantido, o será com o dinheiro público, sobretudo o que já saiu e o muito mais que sairá dos bolsos do povo de Cascais. 


E quando digo que são privados os negócios da escola de negócios estou a relembrar que no empreendimento também estão implicados, entre outros, o Grupo Jerónimo Martins e o Banco Santander-Totta, instituições que consabidamente nada têm de beneficentes.

A garantia de que será muito através do dinheiro dos bolsos dos cascalenses que o negócio da escola de negócios irá por diante, está assumida em letra de forma nos Estatutos da Fundação onde a escola se vai acoitar; estatutos onde Vª. Exª., em nome da Câmara, assentiu que os munícipes vão contribuir anualmente para o orçamento da “coisa” com valores iguais “à soma das demais receitas anuais da Fundação”.


Isto depois de, sem o saberem, os cascalenses já terem pago das suas contribuições em taxas e impostos 1.580.000,00€ pelos terrenos, com a certeza que todos os presentes temos de que ainda vão ter que contribuir com mais 8.497.752,00€,  por força da resolução do Tribunal que considerou ser esse o valor devido aos donos dos terrenos que, em conivência com o defunto governo do PSD/CDS, a Câmara,  onde também desmandam os mesmos PSD e o CDS, expropriou em processo de ocupação selvagem.


Por isso, eu não vou ao almoço para o qual me convida, e não vou ainda também porque, sabendo o que penso sobre o californiano negócio da escola de negócios, sei de antemão que aqueles a quem jurei defender e dar voz, jamais me perdoariam se por lá me vissem. 


E não vou ainda lançar a pedra, nem comer o almoço que a Câmara vai pagar com o dinheiro dos cascalenses, porque a minha consciência cívica me impede de participar naquilo que estou convicto será mais um atentado contra o equilíbrio de uma zona ecológica e geológica sensível, com implicações previsíveis negativas na sustentação da própria praia de Carcavelos; zona e praia já fortemente ameaçadas pela mega urbanização da Quinta dos Ingleses, e que com a Escola de Negócios serão agredidas com a carga da frequência diária de mais 4.500 pessoas.


É por isso tudo, Sr. Presidente, que não irei participar no seu festivo almoço de lançamento da primeira pedra da “Californian Scholl of Business”, não querendo no entanto de deixar aqui registado o meu profundo desejo de que tal pedra, ficando única, lá permaneça para todo o sempre como monumento à derrota de quantos, servindo-se do que é público se alcandoram nos interesses de negócios privados.


*Vereador do PCP na Câmara Municipal de Cascais 


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1 comentário:

  1. Aplaudo a dignidade manifestada pelo Vereador Clemente Alves na firme observância e coerência dos princípios que defende. Atrevo-me a lembrar que, para além de todo o contorcionismo formal que envolve esta "negociata" da Câmara, existe uma providência cautelar que a coloca no patamar da pura ilegalidade !!! Como é que a CMC lança a primeira pedra de uma obra que ainda não está legalizada ???????

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