Sol e Sombra


*GONÇALO PINTO FERRÃO

Sol e Sombra é uma expressão tradicionalmente ligada às práticas tauromáquicas, felizmente há muito abolidas da convivência e da iniciativa organizativa destes espetáculos de barbárie, no nosso concelho.


Todavia, em Cascais, a expressão mantém-se bem viva, enquanto significado social e politico da organização territorial do concelho. Sendo considerado como “Sol” o litoral e “Sombra” correspondendo às freguesias do interior, criando uma dicotomia entre áreas socialmente mais favorecidas em contraponto com as restantes menos apelativas e descuidadas.


De facto, existe desde sempre, e agravado ao longo destes 40 anos de Poder Local, um foco de ação política privilegiando o litoral em detrimento do interior.


No entanto, a degradação paisagística do concelho afecta tanto um lado como o outro. De um interior de pendor mais rural, no passado, assiste-se agora a uma transformação em florestas de urbanização desordenada, de constantes novas centralidades adiadas, até a um litoral constantemente assaltado pela ânsia do betão, como prova o novo Plano Director Municipal (PDM). Basta consultá-lo.


Desde o pretenso Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos Sul (PPERUCS), arrematado pela ambicionada construção da Nova School of Business and Economics, até à urbanização da Areia, em plena Área de Paisagem Protegida do Parque Natural Sintra – Cascais, passando por todas as atrocidades já executadas, como é exemplo o Estoril Sol Residence, ou a edificação de parques empresariais desenquadrados do meio e descontextualizados das exigências ambientais mínimas.  


Estes desconexos actos políticos culminam na desorientação do atual executivo camarário, escondendo-se constantemente atrás de prémios e mais prémios sem qualquer valor acrescentado no contributo real de uma verdadeira e sustentada política de qualidade de vida dos cascalenses, onde não deixaremos de relevar a falta de condições de mobilidade, a falta de condições de serviços de transportes públicos, a inexistência de espaços dedicados à cultura e ao lazer, as lacunas na implementação de várias instituições sociais públicas, como creches, jardins-de-infância e lares para idosos, entre outras coisas.
 

Num concelho, que é o quinto maior concelho do País em população, o panorama atual é mais sombrio do que soalheiro.

*Deputado Municipal Bloco Esquerda (BE)

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