Conivências estranhas que nadam na água que Cascais paga para beber*

CLEMENTE ALVES*




Para calar críticas e denúncias que tenho feito sobre a qualidade da água de consumo humano distribuída pela Águas de Cascais, SA entendeu o Presidente da Câmara pedir ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge a realização de análises, cujos resultados são hoje trazidos ao conhecimento da Câmara no ponto de “Informações”. Sobre estas entendo referir o seguinte: 








1. As análises encomendadas ao INS respeitam apenas a três pontos de colheira: no refeitório do complexo municipal da Adroana; no refeitório municipal do CascaisCenter e no edifício dos Paços do Concelho.

 2. As amostras foram colhidas num único dia, em 17/11/2016.


 3. No referente à “Análise Química”, o INS regista que “os ensaios físico-químicos efectuados estão de acordo com os requisitos de qualidade definidos na legislação portuguesa de águas para consumo humano”.


 4. Sobre a “Análise bacteriológica”, é-nos dito que “a amostra analisada revelou-se conforme o Decreto-Lei nº 306/07 de 27 de Agosto”.


5. Ou seja: as análises Química e Bacteriológica dizem que se bebermos o produto fornecido pela Águas de Cascais, SA não morremos logo.
 
Atrevo-me a pensar que, face a tão “excelentes” resultados e antes de se ter decidido apresentálos, o Presidente da Câmara deverá ter considerado que ia calar em definitivo este vereador, “que não aceita como válidos os resultados das análises apresentados pela Águas de Cascais”. Para mais quando tais resultados provêm da entidade “independente e idónea” que o próprio vereador defendeu que devia ser contratada para tirar as teimas. Lamento desiludir o Sr. Presidente, porque com as análises que agora nos apresenta não posso fazer mais senão acentuar a convicção de que nesta coisa da água de consumo humano que é fornecida aos munícipes pela Águas de Cascais, SA há mesmo gato escondido com o rabo de fora. E porquê ? – Precisamente porque as análises foram feitas para nos darem os resultados que nos apresenta: . Porque as colheitas foram feitas num único dia do ano, em apenas em três locais, todos por acaso em instalações da Câmara; . Porque o mês das amostras (Novembro) é um daqueles em que no sistema de abastecimento se induz a menor quantidade de água das captações locais e daqueles em que o caudal importado da EPAL é dos mais elevados. Nas intervenções que aqui fiz e em que coloco em causa a qualidade da água que abastece a população de Cascais, dei conta de um conjunto de reclamações de munícipes que referem que a água que sai nas torneiras das suas casas se apresenta turva, com cheiro e sabor estranhos. E referi também que a maior parte dos reclamantes são de localidades servidas pelos depósitos que recebem a água do Rio da Mula, das minas da Malveira da Serra e dos furos de Pau Gordo e da Atrozela, demonstrando com isso que a água não é igual no município de Cascais. E não sendo igual ao longo de todo o ano e em todas as localidades, a demonstração de que a água de consumo humano fornecida pela Águas de Cascais, SA é de qualidade não pode ser feita apenas com o resultado de três amostras feitas num único dia, numa área circunscrita e numa altura do ano em que o produto analisado provém em mais de 95% da fonte chamada EPAL.

Para demonstrar que toda a água do Concelho é igual em qualidade também é preciso medir com mais parâmetros -e não apenas a meia dúzia que foi encomendada para as três amostras do dia 17 de Novembro - o estado das captações locais antes destas serem induzidas, sem adequado tratamento, nos depósitos onde vão ser misturadas com a água importada da EPAL. É porque a água é diferente em cada localidade, conforme as características que trás dos furos ou do Rio da Mula, que os munícipes se queixam que aquela que recebem nas suas casas tem cheiro, sabor e cor estranhos. Características mais acentuadas numas alturas do ano que noutras. Por tudo isto, Sr. Presidente, os resultados das análises que Vª Exª. encomendou e que hoje nos apresenta não servem para outra coisa senão para tentar esconder o Sol com uma peneira. Servindo também para reforçar a convicção, minha e de muitos munícipes, de que entre a maioria política que Vª. Exª. dirige e a empresa privada que fornece água cara e má água no Concelho de Cascais existe uma conivência muito estranha.

P.S. – Em resposta, o Presidente da Câmara desafiou o vereador do PCP para que apresentasse uma relação dos locais onde queria que passassem a ser feitas análises ao estado da água. Quando o vereador referiu que considerava essencial que as análises se efectuassem nos pontos imediatamente anteriores à indução nos depósitos para distribuição dos caudais das captações do Rio da Mula, da Mina da Malveira, dos Furos de Atrozela e de Pau Gordo, e que tais análises fossem realizadas em momentos diferentes do ano, o Presidente da Câmara, recusou afirmando que só aceitava que fosse analisada a água que sai nas torneiras dos munícipes que se queixam e que o vereador do PCP lhe viesse indicar. Reiterando a razão da proposta quanto aos locais e tempos, o vereador do PCP recusou fazer a apresentação de qualquer relação dos munícipes queixosos, porque tal não lhe compete e porque também não será à saída nas torneiras dos consumidores que é medível a qualidade da água das captações quando a mesma é introduzida na rede -onde já deverá apresentar-se com qualidade e salubridade -, o que justifica a diferente qualidade que apresenta consoante as zonas em que é consumida.  
(*)intervenção na reunião de Câmara de 12/Dez/2016

 *Vereador do PCP na Câmara Municipal de Cascais 


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Politicamente incorrecto?

7 comentários:

  1. Hospital de Alcoitão, a agua sabe mal que se farta.

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  2. Abram a pestana, pois já há precedentes...
    MAFRA
    Primeiro caso no país: água em Mafra volta para mãos públicas
    09 DE DEZEMBRO DE 2016 http://www.tsf.pt/sociedade/interior/camara-de-mafra-rescinde-concessao-da-agua-e-saneamento-em-baixa-5543753.html

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  3. Os vereadores que se encontram a esquerda do PSD/CDS do senhor Presidente Carreiras Lavrador, deveriam sempre denunciar estas, e outras situações publicamente.
    E não digo mais nada, porque posso ser multado ou preso, como foi o caso da investigadora Maria de Lurdes Rodrigues, que se encontra presa (Ministério da Justiça Estabelecimento Prisionais de Tires), em tires/cascais, e que teve a coragem de dizer, em tribunal, umas tantas verdades sobre a "nossa” justiça!

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  4. Diário de Notícias - "Tribunal de Contas critica PPPs nas águas"
    Tribunal de Contas diz que Parcerias Público-Privadas neste sector garantem lucro excessivo a privados.
    Uma auditoria do Tribunal de Contas às Parcerias Público-Privadas no sector da Água revela que os privados conseguem um lucro excessivo com estes contratos. O tribunal concluiu que a maioria dos contratos "têm cláusulas que prejudicam o interesse público".
    Os privados, de capital nacional e estrangeiro, gerem a água de 23% da população portuguesa http://www.dn.pt/portugal/interior/tribunal-de-contas-critica-ppps-nas-aguas-3712047.html

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  5. Tribunal de Contas
    RELATÓRIO DE AUDITORIA N.º 02/15 - 2.ª SECÇÃO
    Regulação de PPP no Sector das Águas (sistemas em baixa)
    http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2015/2s/audit-dgtc-rel002-2015-2s.pdf

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  6. O clemente alves convocava greves no casino e depois negociava um valor junto do assis ferreira para as desconvocar. Valor para o seu bolso. Vigarista que de comunista nao tem nada.

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  7. João Lourençomaio 17, 2017

    Testem a agua do hospital de Alcoitão mesmo com filtros a agua sabe mal.

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