Dito de outro modo, é um orçamento em que o eleitoralismo
evidencia um claro apelo ao capital rentista em detrimento de quem vive e
trabalha em Cascais. Estes últimos são, com efeito, prejudicados. Neste artigo,
em 6 pontos, contrasta-se o essencial da propaganda com os factos da realidade.
Propaganda 1: É um
orçamento com cerca de 196 milhões de euros de receita prevista.
Realidade 1: O
facto é que a receita prevista parece irrealista tendo em conta o grau de
execução das receitas desde 2013.
Quadro I: evolução do orçamento
municipal desde 2013.
Orçamento municipal
|
2013
|
2014
|
2015
|
2016
|
2017
|
Receita dotada
|
188.850.000,00
|
165.850.000,00
|
159.976.062,00
|
193.600.296,00
|
196.007.161,00
|
Receita executada
|
130.063.851,94
|
143.460.729,61
|
149.543.838,64
|
115.476.816,39*
|
-
|
Variação (%)
|
69%
|
86%
|
93%
|
59,6%*
|
-
|
*valor na data de apresentação
do orçamento municipal de 2017 em reunião de Câmara
Propaganda 2: Diminuição
da carga fiscal ou “desanuviamento fiscal para os munícipes de Cascais” (OM. pg.6).
Realidade 2: O
facto é que há um aumento da carga fiscal. Observem-se os valores afetos às
rubricas que compõem a previsão da receita municipal. A este aumento
associa-se, também, um acréscimo de 17% nas “taxas multas e outras penalidades”,
quando comparado com 2016. É um orçamento que utiliza o Pacote Fiscal para confundir
os munícipes.
Quadro II:
síntese sobre dotação da receita
Dotação da receita
|
2013
|
2014
|
2015
|
2016
|
2017
|
Impostos diretos
|
97.043.448
|
88.397.280
|
109.637.555
|
102.931.403
|
110.557.016
|
Impostos indiretos
|
11.696.785
|
12.074.210
|
11.321.195
|
11.316.744
|
11.933.138
|
Taxas, multas e outras penalidades
|
7.739.562
|
7.911.698
|
7.109.151
|
7.839.559
|
9.169.685
|
Propaganda 3: Diminuição do IMI ou a “significativa
redução do IMI para 0,38%” (Pacote Fiscal, pg.2).
Realidade 3: O
facto é que o IMI decresce apenas 0,01% pois há vários anos que estava fixado
em 0,39%. Contudo, para compensar os cofres municipais, a Câmara reterá em 5% o
valor do IRS - aplicará o valor máximo da participação variável (entre 0% e 5%)
- com que se financia.
Ou seja, todos os munícipes contribuintes receberão menos
devolução de IRS em 2018. Isto significa que o PSD/CDS dá com uma mão e retira
com as duas. O PSD/CDS engana no ano eleitoral preparando-se para “sacar” em
2018.
Propaganda 4: A
minoração do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) nos arrendados das freguesias de Carcavelos-Parede; São Domingos de
Rana e Alcabideche, “regenerando centralidades”(OM. pg.5).
Realidade 4: O
facto é que esta medida não incide sobre o comum dos cascalenses que mora no município. Incide apenas sobre
quem tem património imobiliário arrendado (more onde morar). Com esta medida
estimula-se a gentrificação; ou seja, que os genuinos habitantes do município
de Cascais abandonem o concelho e arrendem as suas casas porque a procura é
muita e vai aumentar... É esta a noção
que PSD/CDS tem de “regenerar centralidades”....
Propaganda 5:
Majorar em 30% a taxa de IMI a aplicar em prédios urbanos degradados e isentar
de IMI, durante 3 ou 5 anos, imóveis reabilitados (Pacote Fiscal pg. 5 e 6).
Realidade 5: O
facto é que os prédios urbanos degradados têm sempre pago mais IMI. Em geral é
por falta de meios financeiros que os proprietários não conseguem recuperar o
património. O exercício da penalização de 30% agrava a situação enquanto, em
simultâneo, se alicia com isenções fiscais quem já tem capital disponivel. Chamam-lhe
“criar novos eixos de prosperidade” (OM. pg 5). Importa lembrar que atualmente
existe no município um conjunto de incentivos fiscais nas Áreas delimitadas de
Reabilitação Urbana (ARU), porém não serão estes os benefícios a aplicar no
município inteiro.
De facto, esta medida pressiona os cascalenses à venda dos
seus imóveis. Cascais está à venda! Esta medida responde à gula dos fundos
imobiliários e dos especuladores. É este o conceito de “reabilitação” do
PSD/CDS...
Como se poderá verificar a expetativa de aumento de Imposto
Municipal sobre Transmissões Onerosas já aumentou cerca de 44% desde 2015.
Quadro III: síntese da evolução da receita proveniente do Imposto
Municipal sobre Transmissões Onerosas
Dotação da receita
|
2013
|
2014
|
2015
|
2016
|
2017
|
Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas
|
26.293.398
|
23.500.000
|
31.500.000
|
40.622.403
|
45.308.022
|
Propaganda 6:
Este orçamento é “um exercício de reafirmação do modelo de Estado Social Local”
(OM pg. 3).
Realidade 6: O
facto traduz-se pelo futuro municipal como previsto pelo PSD/CDS. Este inclui a
diminuição da participação da Câmara Municipal nas áreas sociais de Educação;
Ação Social; Saúde; Ambiente; Desporto e Juventude; etc. É esta a noção que PSD/CDS tem de “Estado
Social Local”...
Quadro IV: síntese das Grandes
Opções do Plano
Grandes Opções do Plano
|
2017
|
2018
|
2019
|
2020
|
Educação
|
11.021.980
|
9.331.697
|
8.915.768
|
8,856.010
|
Cultura, Desporto e Juventude
|
6.105.605
|
3.326.386
|
3.042.000
|
2.959.000
|
Acção Social
|
8.433.238
|
4.322.582
|
4.315.082
|
2.636.758
|
Saúde
|
230.407
|
185.300
|
185.300
|
0
|
Meio ambiente
|
3.342.955
|
1.022.629
|
1.010.129
|
842.629
|
Em síntese, ao longo destes 3 anos de mandato as oposições
têm-se batido contra este tipo de gestão. O projecto de governação desta
maioria absoluta, neoliberal, é mais uma vez denunciado através deste orçamento
municipal.
O PSD/CDS tem vindo a implementar uma política originadora
de desigualdades e persecutória de quem, embora com custo financeiro, teima em
viver no município.
Este orçamento é mais uma machadada nos munícipes que
trabalham e têm as suas casas no concelho. Em troca de 0,01% de IMI, deixarão na
Câmara 5% de IRS, mas se arrendarem as suas casas têm uma bonificação de 20% no
IMI. Adicionalmente, se os cascalenses tiverem património a reabilitar serão
penalizados em 30% no IMI, mas se venderem para especulação o comprador não
paga IMI. A estas medidas fiscais importa adicionar a “ameaça” dos cerca de 9
milhões em taxas e multas como previsto no orçamento. Dizem que é uma política
de “atracção de investimento”, mas escondem que é contra os munícipes.
A maioria do PSD/CDS comporta-se como a personagem Caco Antibes
da série Sai de Baixo: “tenho horror a pobre!”.
Nas eleições autárquicas de 2017 há alternativas!
* Vereadora do PS na Câmara Municipal de Cascais
Leia também
Cascais e a geoestratégia do neoliberalismo
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Bom dia
ResponderEliminarExcelente artigo
Será que o orçamento está vocacionado para a melhoria das condições das nossas escolas públicas? Por exemplo; Terem internet? Ou computadores que funcionem?
E o que prevê o orçamento para a regeneração urbana e para a fixação de novos residentes nos centros históricos, especialmente em Cascais. Será que a barbárie, sem controlo e em roda livre, dos alojamentos locais vai continuar a expulsar os residentes?
Os números são importantes para percebermos porque pagamos tantos impostas e para onde vai esse dinheiro.
ResponderEliminarEm Cascais é para festarolas e mordomias para os ricos, pois claro!
A saúde, e esta pelo que vejo, esta nas preferências dos neoliberais...Já nem vou perder tempo analisar o resto...
ResponderEliminarComo é que ainda existem pessoas acreditar nestas politicas neoliberais....citando um conhecido autor esta democracia, esta aficar, burguesa, podre e corrupta...
Por fim: obrigado Teresa Gago , pela informação , por denunciar este triste orçamento..